Artigos - Consciência Ambiental Ativa
Vida que te quero viva
07/04/2008
“Num paradigma ecológico, o que mais se enfatiza é a vida, o mundo vivo de que somos parte e de que nossa vida depende”. Fritjof Capra Eu, você, todos nós temos “direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Que bom, hein! Assim está escrito na Constituição Federal, nas Estaduais e até nas Leis Orgânicas Municipais. Porém, como costumava dizer Plínio Marcos, “sempre há um porém.”. Quem nos dá garantia disso? O Estado? Os governos? Ninguém. Principalmente se o que nos rege hoje, via globalização, neoliberalismo e outros ismos, são as leis do mercado e dos mercadores. E a quem caberia proteger o meio ambiente? Ao Poder Público? Também. Mas, como bem sabemos que o Poder Público não é assim tão público, cabe a nós o exercício desse direito e desse dever. A ação da cidadania, como em outras circunstâncias, é que deve impor-se como condição para a preservação e proteção ambiental. A coletividade de que trata a Lei Maior são os cidadãos, portanto, mãos à obra. Temo quando, às vezes, as lutas pela preservação ambiental sofrem uma infame descaracterização: “coisa de grupos minoritários”, de “ecologistas festivos”, “de quem só quer saber de plantas e animais”, e outras tantas coisas jocosas ditadas, evidentemente, pelo analfabetismo político-ambiental. Temo porque acredito ser imprescindível que a causa ambiental seja definitivamente encarada como uma causa da cidadania humana, universal, assim como o direito à vida. O cidadão do mundo deve respeito ao meio ambiente, logo o exercício da cidadania tem que se fazer presente em qualquer situação de ameaça ao patrimônio ambiental. Educar para a cidadania também é educar para a preservação da natureza, do seu equilíbrio. A cidadania não pode ficar alheia ao que é fundamental, “à preservação do bicho homem”, como costuma dizer o ambientalista mineiro Sérgio Mário Regina. Manter o meio ambiente inteiro e saudável é tarefa de todos. Para enriquecer a reflexão sobre o assunto, cito Leonardo Boff, teólogo e pensador cristão, em seu livro Ecologia, Mundialização, Espiritualidade: “A ecologia não é um luxo dos ricos e nem uma preocupação apenas dos grupos ambientalistas ou dos Verdes e seus respectivos partidos. A questão ecológica remete a um novo nível da consciência mundial: a importância da Terra como um todo, o bem comum como bem das pessoas, das sociedades e do conjunto dos seres da natureza, o risco apocalíptico que pesa sobre o criado. O ser humano pode ser anjo da guarda bem como satã da Terra”. Do ponto de vista da cidadania, é preciso entender urgente que o meio ambiente é inteiro e toda a agressão que se faz a ele, com certeza, terá as suas conseqüências e estas, inevitavelmente, atingirão o agressor, o homem, já que ele é parte integrante desse ambiente. Mesmo com o crescente interesse pela preservação ambiental, ainda falta muito para instituirmos uma nova ordem ecológica mundial que leve holisticamente em consideração a vida como um todo, e não apenas fragmentos dela. A verdade é que nunca tivemos uma cultura ecológica, o “bicho homem” sempre agiu como centro de tudo, sempre agiu como senhor da natureza, como aquele que tudo pode. Acreditou numa mãe terra inesgotável a nutrir sempre, mesmo que violentada e mal cuidada. Hoje já se percebe que não é bem assim, é preciso cuidar do útero que nos acolhe. Pensando assim, não vejo outro caminho senão o da ação da cidadania na construção de uma nova ética ecológica, levando em consideração as três ecologias de que nos fala Felix Guattari: “A ecologia interior, ou seja, o meio ambiente interno - a relação do ser humano consigo mesmo; a ecologia das relações sociais - da relação dos seres humanos entre si na construção da sociedade; e a ecologia da relação com a natureza”. Em resumo, isto viria estabelecer uma nova visão ecológica onde prevaleceria a idéia, como diz Leonardo Boff, do “equilíbrio da comunidade terrestre”, visando “refazer a aliança destruída entre o ser humano e a natureza e a aliança entre as pessoas e povos para que sejam aliados uns dos outros em fraternidade, justiça e solidariedade”. Willes S. Geaquinto * Texto transcrito do livro Cidadania, O Direito de Ser Feliz. Escrito e publicado pela primeira vez em 1996, reeditado em 2002, com ambas as edições esgotadas.
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