Esta é uma reflexão para aqueles que buscam ir além da esfera material da existência e adentrar a jornada da evolução espiritual.
Partindo do princípio da lei hermética universal que diz que tudo no universo é mente, é compreensível entender que tudo tenha a sua origem na grande mente universal que é Deus, o Todo. Sendo assim, em essência, podemos afirmar que nós todos e toda a criação somos centelhas dessa grande Mente; nos expressando de modo individual e singular em cada dimensão no universo.
No domínio humano, a mente em si é una, no entanto, ela se subdivide em mecanismos, ferramentas ou elementos que devem ser observados e desenvolvidos no fluxo da sua evolução, ou seja, ela contém em si partes que na medida em que evoluímos vão sendo potencializadas até que atinjamos a totalidade do seu aprimoramento. De outro modo podemos dizer que a mente não é um elemento estático, ela é um servomecanismo que está à disposição do ser humano para servir à sua evolução. Logo, ela necessita ser aperfeiçoada, ou otimizada para que alcance todos os seus quadrantes dimensionais e venha a ser empregada em sua totalidade.
Para efeito de melhor entendimento sobre o tema vou me deter numa divisão inspirada pelas prédicas do filósofo espiritualista José Trigueirinho Netto[1] que, em seu livro Trabalho Espiritual com a Mente, diz inicialmente: “O nascimento de uma nova consciência no homem inclui a reestruturação da mente... Isso não significa apenas, mas sobretudo a transmutação do corpo mental e desse nível de existência, o que é ajudado pela concentração no mundo interior, pelo serenamento do raciocínio habitual”.
1. MENTE CONCRETA - Sobre a mente concreta, podemos dizer que ela é o lado “material da mente”; é a parte ou segmento mais comum dela, habitualmente utilizada frente ao cotidiano, ao mundo externo. Nas palavras do Trigueirinho, “a mente concreta também é chamada de “consciente esquerdo” por estar mais propensa a lidar com os níveis mentais concretos da vida”. Também vale ressaltar, a título de conhecimento, que o pensamento é apenas uma atividade da mente – não é a mente. É o pensamento que leva a mente a se fixar em eventos externos, o que dificulta que ela vá além, que se conecte com algo superior, ou seja, essa fixação em situações imediatistas é o que a impede de ir dimensionalmente além, ficando de certo modo presa a distrações limitantes. Desse modo, a princípio podemos afirmar que o primeiro passo da jornada evolutiva espiritual deva ser o de obter o controle da mente concreta, limitando o seu domínio, através de exercícios meditativos e práticos que sedimentem, através da concentração, o desenvolvimento da autodisciplina mental. O que significa vencer as limitações e as distrações no campo da materialidade, além das vontades primárias dos instintos, das necessidades físicas e das emoções, inclusive. Segundo Trigueirinho, a concentração mencionada, requer da pessoa o desapego e “a renúncia àquilo que atrai, agrada ou contenta, a fim de voltar-se prioritariamente para a busca espiritual”. O cotidiano automático é o lobo sutil que devora o projeto de identidade do ser; enfim a mente concreta é extremamente reducionista, o que impede a expansão da consciência.
2. MENTE INTELECTUAL - Esta é a parte do “aparelho” mental que contempla o aspecto analítico e racional. A mente intelectual não se configura apenas por possuirmos algum conhecimento, o seu desenvolvimento acontece por ir além dos sentidos comuns. Por apurar e interpretar o conteúdo dos sentidos, dos sentimentos e dos instintos, ela supera o lado concreto, daí a exigência do seu aperfeiçoamento constante através da educação e da disciplina. As aspirações a planos superiores, pela elevação, pelo avanço da consciência, concorrem para o refinamento do nível vibratório da mente. E isto e vai, de certo modo, ativar com maior eficácia os mecanismos cerebrais. Influenciando-os não só nas capacidades intelectivas, mas, também aprimorando e dando maior impulso às competências cognitivas; processando o conhecimento de modo a transformá-lo numa ferramenta de expansão, criação e realização. Isso tudo, além de “abrir” o acesso a dimensões superiores do conhecimento cósmico, sutil ou espiritual, por assim dizer.
Algo que também vale a pena avultar, é que quando o indivíduo dá início a esse processo evolutivo com o desenvolvimento dessa mente intelectual, isso vai repercutir alterando o funcionamento das células cerebrais, inclusive. É quando isso acontece que começa na verdade o trabalho voltado para a expansão da mente e da evolução rumos a níveis superiores de conhecimento e compreensão das leis universais e as suas repercussões nas diversas dimensões da existência humana e espiritual. Aquele que possui a mente intelectual desenvolvida percebe que não precisa seguir tudo o que os sentidos indicam. Embora esteja direcionada também para a vida exterior, a mente intelectual distingue os apelos dos sentidos da vontade real do indivíduo.
3. MENTE PSÍQUICA – Segundo Trigueirinho, é a partir da transformação ou otimização das células cerebrais que a parte psíquica da mente começa a desenvolver-se. Sendo assim, o lado psíquico da mente quando desenvolvido nesse processo evolutivo passa a responder automaticamente aos impulsos superiores, da mente cósmica. Que vem a ser uma dimensão mais sutil que poucos conseguem acessar, principalmente devido à acomodação no setor da mente concreta, o que significa que se o indivíduo não busca o aprimoramento ou desenvolvimento dos diversos mecanismos que a mente traz em si como elementos a serem otimizados, ele não evolui, ficando refém de certos determinismos que a mente concreta estipula, baseada na baixa cultura e educação precária.
É através da mente psíquica que o indivíduo percebe, capta as indicações da alma e passa a interagir com elas e responde-las. E quando isso acontece ocorre o desmantelamento dos condicionamentos a que o indivíduo está submetido, liberando inclusive o fluxo energético-vibratório que há muito pode estar represado. Nesta altura desta reflexão podemos dizer que cada estado da mente já mencionado vibra de um modo específico. Sendo assim, na medida e que o indivíduo evolui no seu aspecto mental, a cada nível desenvolvido ele atinge uma melhor performance no seu estado vibratório. Algo que ainda deve ser observado é que se não evoluirmos a nossa mente psíquica, ela pode ficar atrofiada de modo a impedir a nossa evolução a níveis superiores da mente. Daí que, como bons aprendizes, devemos ser obedientes aos ditames superiores que nos convidam a evoluir, e sermos humildes em reconhecer que sempre teremos muito a instruir-se.
Este é o link para um vídeo onde comento o assunto:
https://www.youtube.com/watch?v=O48DzrXJNRM
[1] José Trigueirinho Netto (1931-2018), filósofo-espiritualista, escreveu 82 livros e proferiu mais de 3.000 palestras gravadas ao vivo. O livro citado nesta reflexão intitula-se O Trabalho Espiritual com a Mente. Obra disponível em pdf na internet.
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