Dentro de um mundo que chamamos de "mundo das aparências", um cenário ideal criado pela sempre faminta indústria do "vender qualquer coisa", onde se incluem objetos, idéias e ideais, a construção de uma personalidade "batizada", quer dizer condicionada, tornou-se sua principal meta existencial.
Observe o mundo artificial que criamos para nossos pequenos. Os personagens não são de verdade, os objetos são modificados, com uma aparência bizarra, que classificamos como engraçados. Quem define o que é engraçado, nós ou as crianças? Quem cria o engraçado, nós ou nossas crianças? Claro que não são elas, elas são os consumidores, o alvo de tais criações. Assim, se somos nós, não se trata tão somente de uma forma de condicioná-las? Idealizamos o engraçado, damos forma a esse engraçado, depois só nos resta convencê-las de que aquilo é de fato engraçado, e está feito.
A mesma coisa é válida para as fantasias, os reinos mágicos, encantados, criados para entretê-las. O que esperamos obter com isso ainda não sabemos, e se há algum ensinamento educativo, ético, o que seja, que esperamos conseguir com tal prática, aparentemente ainda não logrou o desejado, pretendido e didático efeito.
Para uma imensa, bem estruturada e sólida indústria, a mesma que cria tais fantasias e mundos abstratos, há um efeito, e este conhecemos bem, o lucro. E há todo um corpo docente, os criadores, a tentarem nos convencer que essa é a coisa certa. Diversão está muito distante de ilusão. Diversão é uma coisa, disso toda criança carece, mas ilusão, mentiras, fantasias inexistentes, não. Não se constrói uma realidade em cima de uma fantasia. Não se vislumbra um mundo melhor, mais justo, ciente de seus problemas e conseqüentes soluções, em cima de um mundo irreal, sem problemas, que mais se adequa como um estÃmulo a indiferença, ao comodismo.
Uma criança, e mesmo um jovem, pré-adolescente, ou mais velho, desconhece os problemas dos seus pais, dos adultos, desconhecem mesmo a sua fisiologia. Acreditamos que elas não são incapazes de assimilar tais informações, e, no entanto, criamos fantasias fantásticas para preencher seus dias, roteiros bizarros de coisas desnecessárias e inexistentes, e mesmo vendo como interagem com as novas tecnologias, provando que pensam rápido e de forma lógica, melhor que a maioria dos adultos, ainda assim, insistimos em lhes negar a realidade que terão pela frente, alegando que não é chegada a hora.
Não somos nós, mas, as autoridades, os regentes do conhecimento, que nos dizem o que fazer, o que pensar, o que sonhar, o que desejar, como se fossemos brinquedos sofisticados movidos aos seus impulsos e ordens. Apenas seguimos o roteiro, obedientes, submissos, tementes de questionar o porquê de cada uma dessas coisas. De perder é o nosso receio, seja uma ideologia, seja uma crença, seja o que for. Apoiamos-nos na autoridade de uma tradição na esperança de que nos dê força para também dominarmos, nossos filhos, nossas relações, quem estiver em nosso entorno.
Formar crianças livres e felizes não é nossa meta, não temos nenhuma meta, apenas seguimos ordens, a chamada "opinião oficial", metas alheias, cujas origens desconhecemos, e os resultados são meros acasos. Ser bem sucedido, ter uma profissão rentável, um padrão de vida material razoável, é a promessa que nos impulsiona, que rege nossas aspirações.
E isso repassamos para nossos filhos. Mas não nos ocorre, questionarmos porque a maioria de nós, a despeito de seguirmos à risca a "cartilha", ainda não logrou pleno êxito em sua vida pessoal. Mas há a esperança de dias melhores, e como cegos seguindo um cão guia, nos encolhemos na acomodação, na crença de que as autoridades, as mesmas que ditam nosso destino, até o fim dos nossos dias, estejam zelando para um dia isso se concretizar.
Eis nossa herança para nossos filhos. Uma criança não compreende porque sua mãe muda tanto de humor em certos perÃodos do mês. Os conflitos são inevitáveis, produto de uma ignorância instituÃda, premeditada, cego guiando cego, quando a simples instrução, até como forma de respeito, resolveria de vez o problema. TPM, ou Tensão Pré-Menstrual, poderÃamos explicar para nossas crianças que suas mães padecem de tal transtorno, natural, normal, comum, parte de suas fisiologias, nada de absurdo, mas que é capaz de transformar seu estado emocional, tornando-a mais sensÃvel, irritadiça, ansiosa, nervosa, o que pode fazer parecer, para filhos e filhas ignorantes, que é coisa pessoal?
Não estaria nessa simples explicação a solução de muitos problemas de relacionamento entre mães e filhos, e filhas? Se é um problema para os adultos, que já conhecem o problema, imagine para crianças, sensÃveis, emocionalmente instáveis, que tendem a tudo levar para o lado pessoal?
Fazê-las compreenderem tal estado hormonal, fÃsico, emocional das mães, evitaria muitos transtornos, e estas poderiam efetivamente ajudar a mesma a superar de forma menos traumática tal ciclo. Se elas compreendem como programar um computador, não estariam também aptas a compreenderem esta coisa, infinitamente, bem mais simples?
E sobre os problemas da velhice, isso também não faz parte dos seus dias, não é o futuro de cada uma delas, pelo menos da maioria? Compreender, conhecer os problemas da velhice, ou boa idade, ou qualquer outro nome que se institua, não as tornariam mais tolerantes, mais dispostas a conviverem sem conflitos com os mais velhos? Conhecer os problemas de cada idade, não as tornariam mais humanas, mais responsáveis, mais naturalmente disciplinadas e comprometidas com o bem estar social, que no final é o delas mesmo?
Estudar os limites de compreensão de cada idade, o que cada faixa etária é capaz de assimilar, isso deveria ser um quesito da grade curricular regular. Do mesmo modo que se institui adequação de brinquedos, filmes e programas por faixa etária, porque não instituir uma adequação daquilo que cada indivÃduo em crescimento é capaz de assimilar? Por que os pais esperam pelos educadores, e os educadores esperam pelos especialistas, e os especialistas esperam pela oportunista indústria dos padrões de entretenimento, para então lhes informarem o que devem fazer? Informarão estes a coisa certa ou apenas aquilo que lhes convém? Eis o que ocorre.
Em nossa pauta de aprendizado há espaço para tudo. Para brincadeiras, para experiências pessoais, para nossas crenças, mas, devemos considerar o ensino como uma forma de instrução e não de lavagem cerebral. Ensinar nossos filhos pela forma mecanicista, onde não precisam pensar para executar, onde basta ser capaz de imitar, onde não consideramos aquilo que são capazes de assimilar, mas sempre o que são capazes de reproduzir como animais amestrados, não é educação, mas para construir mundos de mentira, repletos de fantasias bizarras, serve. O que podemos esperar depois senão que construam um mundo igualmente bizarro?
Jon Talber é pedagogo e escritor de temas de auto-ajuda. Estudou por muito tempo filosofia oriental e antropologia. Torna-se mais um colaborador eventual do nosso Site, onde pretende compartilhar parte daquilo que aprendeu.
Fonte: http://sitededicas.ne10.uol.com.br
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