Dossiê inédito traz evolução histórica, análise e principais tendências para o consumo consciente no Brasil.
Não há dúvidas, entre especialistas, de que o consumo consciente é crucial para o avanço do conceito da sustentabilidade. E nesta segunda (08/03), teve início mais um capítulo da discussão do tema no Brasil com o lançamento do dossiê inédito Tendências Para o Consciente. O documento produzido por Ideia Sustentável, Unomarketing e Mob Consult, traz o mapeamento e análise dos achados inéditos do Monitor de Responsabilidade Social Corporativa (MRSC) 2010, da Market Analisys, e foi apresentado em evento realizado no Centro de Convenções Rebouças. “Acredito que a pesquisa MRSC é a mais séria e completa sobre o assunto realizada até hoje”, ressalta Ricardo Voltolini, diretor da consutoria Ideia Sustentável.
A discussão teve início com Luiz Bouabci, da Mob Consult, falando sobre os desafios da produção do dossiê e fazendo uma análise das raízes históricas da sociedade de consumo. A instituição do valor da moeda na sociedade, a revolução industrial e os avanços científicos que a transformaram foram temas debatidos na exposição de Bouabci. Por gerações, a ideia do egoísmo coletivo foi entendida como fator crucial para o desenvolvimento da economia e, atualmente, o consumo representa uma ferramenta para elevar a auto-estima dos indivíduos. Desse modo, a realização pessoal passa pela aquisição de bens. “Do ponto de vista do consumidor, um olhar histórico torna possível a identificação e análise da formação dos modelos de consumo e da evolução pela qual passaram. Possibilita enxergar caminhos para o futuro”, ressaltou Bouabci.
E na medida que a sociedade de consumo parece perder o sentido, uma consciência maior em relação aos limites do planeta tem sido desenvolvida. Ferramentas de “desmanipulação” como o Good Guide (confira artigo de Ricardo Voltolini) e redes virtuais estimulam indivíduos a saírem do lugar comum e refletirem sobre o modo como consumimos.
“Devemos envolver cada vez mais pessoas em torno desse tema, pois essas informações são muito importantes para o nosso dia a dia e o consumo consciente é de grande relevância para todas as áreas. Quanto mais conscientes nos tornamos, menos consumistas seremos”, avalia Regina Miranda, fundadora do portal Agenda Sustentável.
Na sequência do evento, Fabián Echegaray, da Market Analysis, revelou os principais dados e conclusões do Monitor de Responsabilidade Social 2010, mostrando a realidade do consumo consciente no Brasil atualmente. De acordo com o estudo, 21% dos brasileiros estão informados sobre as condutas socioambientais de empresas e 9% se preocupam com o comportamento sustentável dos fabricantes. Porém, segundo uma das conclusões do MRSC, intenções nem sempre predizem ações. Os consumidores podem manifestar a intenção de consumir de forma mais consciente em pesquisas, mas muitas vezes essa verbalização não condiz com atitudes reais.
Segundo Echegaray, o consumo consciente passa por cinco fases iniciais – deslumbramento em relação ao assunto, cobertura midiática intensiva, avaliação de prós e contras, conscientização gradual dos custos e consequências pessoais e consolidação de opiniões – para, então, seguir ciclos de altos e baixos. O Brasil está na segunda fase. “A mobilização ainda vai passar muito educação e pela criação de oportunidades para o consumidor fazer escolhas mais responsáveis e informadas”, avalia o diretor da Market Analysis.
Para concluir o evento, Ricardo Voltolini traçou um panorama das principais tendências do tema no Brasil com base nos dados do Monitor de Sustentabilidade 2010. Em relação ao consumo consciente, 15% dos consumidores estão recompensando empresas; 10% pensaram, mas não praticaram; 8% já retaliaram as companhias; e 7% já premiaram e puniram empresas com base em sua conduta socioambiental. Porém, o índice desinformação continua muito alto: oito em cada dez indivíduos não compreendem o conceito e as informações confusas e complexas dos rótulos contribuem para esse cenário de desinformação. “Quase todas as pesquisas dizem que o brasileiro não lê os rótulos dos produtos. Mas do jeito que a informação é exposta hoje em dia, seria necessário um PHd em química para nos dizer o que significam aquelas substâncias, como também não se sabe com clareza o que é um produto verde”, avalia o consultor.
Para Voltolini, pode-se analisar esse cenário com um olhar de oportunidade ou um olhar de risco. O alto índice de desinformação pode ser entendido como um indicador do cenário pessimista para a expansão do conceito, mas proporção de dois entre dez indivíduos que compreendem o tema é significativa se considerarmos seu agendamento publico recente.
“A grande virada acontecerá quando as classes C e D começarem a discutir esse assunto. Por enquanto, são dois consumidores entre dez que consideram as questões socioambientais na compra, mas quem garante que daqui alguns anos serão oito entre dez? As empresas que saírem na frente conseguirão se posicionar, mesmo que não seja por respeito ao planeta, mas por uma questão de inteligência de marketing”, avalia o consultor.
Para Newton Figueiredo, presidente da Sustentax, o dossiê mostrou que o consumidor brasileiro está desinformado em relação a outros países que demosntram um interesse até menor em consumir de forma mais consciente, mas possuem ações mais efetivas na compra de produtos sustentáveis. “Lá fora os indivíduos estão mais informados, há uma regulamentação proibindo o green washing, e o número de ONGs é muito maior do que no Brasil. A população brasileira pode ser mais preocupada com a questão do aquecimento global, mas não compra de forma consciente porque não conhece o diferencial dos produtos e espera que as empresas tenham uma postura mais ativa”.
De acordo com Echegaray, a criação de incentivos também pode ser eficiente nesse cenário. “As empresas sentiriam-se motivadas a investir na comunicação de seus produtos, mais do que por meio da punição”, avalia.
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