I
Existem pais que na tentativa de motivar ou estimular os filhos a adotarem alguma atitude ou postura desejada, acabam por estabelecer uma comparação entre um filho e outro. São falas manipulativas do tipo:“a sua irmã sim é que não me dá trabalho”; “seu irmão é que é estudioso”; “o seu irmão sempre foi inteligente”; “ sua irmã sempre resolveu bem as ‘coisas’ dela”; “ seu irmão nunca me deu problema”; “ sua irmã é que tem um gênio bom”; etc.
Esse modo comparativo carrega em si a possibilidade de deixar seqüelas emocionais, pois, o que para um filho pode soar como elogio, para outro pode ser entendido como desqualificação ou, até mesmo, como rejeição. Pode algum pai até dizer que não teve conscientemente nenhuma destas intenções ao falar como filho, mas, o que fica, o que marca, é como foi sentido por aquele que foi alvo da comparação. Então, é importante saber que o comportamento da parte dos pais que agem dessa maneira é inadequado, uma vez que o mais saudável é educar corrigindo e estimulando o filho de maneira positiva, sem desqualificá-lo; julgando os fatos e não a pessoa.
Quando esse “jogo da comparação” é feito entre adultos, o seu efeito é o mesmo; aquele que é comparado negativamente sempre sentirá que não está sendo aceito por quem faz a comparação. Por outro lado, aquele que recebe o elogio pode criar para si uma falsa autosuficiência, um complexo de superioridade, ou passar a depender de elogios para sentir-se aceito e realizar boas ações.
Concluindo, é fundamental, não só para os pais, ter a compreensão de que ninguém gosta de ser comparado negativamente com outrem, e que essa prática pode estimular comportamentos rebeldes e revoltosos, todos oriundos do mal estar que provoca. Cada pessoa é um ser singular, único, com seus limites e potencialidades. Então, em se tratando dos filhos principalmente, é recomendável sensibilidade, pois sempre é possível estimulá-los ou motivar-lhes a autoconfiança, sem recorrer ao expediente da comparação.
II
Durante uma palestra, ao tratar dessa prática manipulativa, que denomino como “jogo da comparação”, uma mãe, talvez se sentindo um pouco culpada, tratou de se defender dizendo: “... mas quando um pai ou uma mãe compara um filho com o outro, pode estar visando o bem da criança, ninguém faz isso por mal”. Cá para nós, será que um filho entenderia se você lhe dissesse: “olha, estou comparando você negativamente com seu irmão, mas, é para o seu bem, hein!” Será que ele sentir-se-ia estimulado, ao lhe ser dito que o irmão é mais competente que ele? E você, se sentiria estimulado ao ser comparado negativamente com outra pessoa?
A fala é um importante instrumento de comunicação, daí ser necessário utilizá-la com clareza, sem intenções subentendidas ou subterfúgios, pois, os efeitos daquilo que expressamos tanto podem ser positivos como negativos, ainda mais quando se trata da relação com os filhos. Existem pessoas que, quando adultas, amargam certos desconfortos emocionais devido à má comunicação estabelecida em criança pelos pais, substitutos ou educadores. Portanto, é recomendável evitar praticas manipulativas que possam marcar negativamente a vida da criança, às vezes, para sempre. Por outro lado, é imprescindível aperfeiçoar as condutas para educá-las alimentando-lhes a autoestima e estimulando-lhes o desenvolvimento das diversas capacidades de inteligência.
Às vezes, uma palavra ou sentença tanto pode estimular alguém para o sucesso como levá-lo ao fracasso, tanto pode criar amor como o ódio, tanto pode atrair o bem como o mal. Daí a necessidade de ponderarmos antes de falar, de aprendermos a dar sentido claro a tudo o que pensamos, pois, a boa comunicação é sustento de relações ricas e estimulantes.
Boa Reflexão e viva consciente.
Willes da Silva
Psicoterapeuta
Você gostou do texto? Comente...
Todos os direitos reservados - Site Desenvolvido por Varginha Online