Sonham todos os sonhos possíveis nas novelas, mimetizam os personagens de sucesso, mas sentem-se intimamente impotentes para fazerem mudanças profundas, a não ser pela sorte ou pelo reconhecimento social (ser visto, aparecer na TV) e se contentam com “ir tocando a vida como ela é”.
Este país precisa de uma segunda libertação da escravidão: da escravidão das expectativas medíocres, de contentar-se com migalhas, de acreditar que só uns poucos privilegiados podem conseguir tudo, e de que só nos resta sonhar sonhos alheios, inalcançáveis num balão distante.
Todos podemos aprender a nos construir como pessoas mais livres, abertas, humanas, alegres. Todos podemos ser pessoas mais interessantes, realizadas e produtivas.
A educação precisa focar mais, junto com a competência intelectual, a construção de pessoas cada vez mais livres, evoluídas, independentes e responsáveis socialmente. Uma educação interessante, aberta e estimulante, que descortine novos horizontes profissionais, afetivos, sociais e favoreça escolhas mais significativas em todos os campos. Uma educação que ajude as pessoas a acreditarem em si, a buscar novos caminhos pessoais e profissionais, a lutar por uma sociedade mais justa, por menos exploração, a dar confiança a crianças e jovens para que se tornem adultos realizados, afetivos, inspiradores.
Na escola que temos, aprendemos pouco e não aprendemos o principal: a sermos pessoas plenas, ricas, criativas e empreendedoras. Para isso precisamos aprender a ler, a compreender, a contar, a escolher uma profissão, mas precisamos fazê-lo de forma diferente a como o estamos fazendo até agora, insistindo na integração entre a dimensão intelectual, a emocional e a comportamental de uma forma criativa e inovadora. Vale a pena investir nas pessoas, na esperança de mudança, e oferecer-lhes instrumentos para que se sintam capazes de caminhar por si mesmas, de realizar atividades cada vez mais interessantes, complexas, desafiadoras e realizadoras. Essa é a educação que desejamos e que é plenamente viável.
Além de uma escola diferente, é importante realizar ações de educação continuada de todos, principalmente dos marginalizados, para que encontrem sentido nas suas vidas e motivação para querer sair de onde estão. A educação não acontece só na sala de aula, mas em todos os momentos e com todas as pessoas, na interação cotidiana, na forma como olhamos, conversamos, falamos, ouvimos, agimos.
Os educadores nos sentimos meio perdidos e descrentes, diante de tantos desafios e condições profissionais pouco dignas. Se formos pessoas amadurecidas, equilibradas e otimistas nossos alunos encontrarão em nós motivos para também acreditarem em si, para avançar mais, para serem melhores.
Agora é o momento de enxergar possibilidades imensas de mudança que se abrem a nossa frente. Vale a pena mudar, aprender de verdade, ajudar a quem está começando ou com mais dificuldades. Só assim construiremos um país melhor, como é o desejo profundo da grande maioria das pessoas.
Texto complementar ao meu livro A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá, da Editora Papirus.
Jose Manuel Moran
Especialista em mudanças na educação
Fonte: http://www.eca.usp.br/prof/moran/livres.htm
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